Este post pode parecer um tanto a quanto fora de contexto, porém para um trabalho académico que desenvolvi, no qual fiz uma análise não formal da arquitectura e design de um restaurante, precisei se o divulgar online e a melhor forma que encontrei foi através do meu blog de culinária, temática que não poderia vir mais a calhar!
Aqui está um excerto da análise o resto poderá ser visto no livro que escrevi e paginei para a divulgação.
A disciplina foi Arte em Portugal leccionada pelo professor Francisco Gil, a obra é o restaurante Sal e Fogo da autoria do arquitecto e designer Pedro Calado.
Perto do Museu e do Clube Naval o “Sal e Fogo” é à primeira vista um restaurante grill, decorado em tons de vermelho e preto com muita madeira à mistura, não que à segunda mude de tons ou de materiais, o que quero dizer é que o espaço não se resume a algo tão simples. Todo o espaço é realmente preenchido de vermelho e preto, com um pouco de branco e castanho-escuro da madeira. Chega-nos assim logo à entrada, o calor vibrante do fogo e arde-nos o sabor do sal, não precisamos sequer de ler o menu e já ficamos a adivinhar os sabores que ali se fazem.
Se a cor é o primeiro ponto que nos salta à vista logo em seguida apercebemo-nos dos planos lineares, dos ângulos rectos, das meias paredes que separam a sala, das semi-janelas que deixam adivinhar o que se passa do outro lado. Depois pelo meio de todas estas rectas, que nos aparecem não só nas paredes como nas mesas e cadeiras, aparecem linhas curvas, que através da luz nos guiam pela sala seguindo as paredes curvilíneas, revestidas de tijolos pretos e de madeira avermelhada, a mesma madeira dos rodapés e dos armários que parecem iluminar as mesas e cadeiras negras que ondulam ao jeito de quem segue a parede.
Aqui parece que nenhum pormenor foi esquecido, desde o logótipo, tão simples e sofisticado como o espaço, ao tampo das cadeiras, vermelho como o fogo, até aos pictogramas que indicam onde fica a casa de banho, até eles se encaixam ali na perfeição. Tudo faz parte do todo, nada destoa, convive em perfeita harmonia, numa calma e alinho permanente.
Se a arquitectura e o design de um espaço assim precisam de ter a alma da gerência e do público, também não consegue por completo deixar de ter um pouco da de quem o projectou, mesmo que essa fosse a sua intenção, o que também duvido, pois ninguém negará gostar de ver o seu trabalho reconhecido. O resultado final transparece sempre um pouco de quem investiu tempo, imaginou reacções, explorou sensações e projectou ideias. Por mais que se abdique de gostos pessoais, de preferências e até se desperdicem capacidades e conceitos, fica sempre um pouco, se esse pouco não ficasse, podia ser qualquer um o escolhido para fazer um espaço ter sentido e começar a existir.